CERCA de PORTIMÃO
"Coisas e Loisas" é um espaço em que se pretende recordar coisas sabidas de todos mas de que nem sempre nos lembramos, por isso mesmo é um tempo e um lugar para partilhar memórias.
1 - Este blog e todos os outros da minha pena não respeitam deliberadamente o acordo ortográfico.
CERCA DE PORTIMÃO
2 - Neste "post" os arruamentos actuais não são exactamente os do séc. XV / XVI pelo que a localização de Portas, Postigos e Muralhas podem afastar-se ligeiramente dos primitivos.
3 - Este post pretende fazer um levantamento da Cerca / Muralha de Portimão -Séc. XVI- cerca essa, hoje praticamente inexistente ou oculta no casario fruto do crescimento de Vila Nova de Portimão.
O presente trabalho trata de alguns aspectos da fortificação de Vila Nova de Portimão, hoje praticamente inexistente ou oculta no casario, consequência, sobretudo, dos terramotos do século XVIII, da expansão da povoação, do aproveitamento de alguns dos materiais de alvenarias da cerca e consequente derrube a fim de facilitar a circulação de pessoas e mercadorias, bem como a organização de novos arruamentos, mudanças que vieram alterar em muito o conjunto quatrocentista da povoação e afectando ainda mais aquela estrutura militar.
CERCA URBANA DE PORTIMÃO3 - Este post pretende fazer um levantamento da Cerca / Muralha de Portimão -Séc. XVI- cerca essa, hoje praticamente inexistente ou oculta no casario fruto do crescimento de Vila Nova de Portimão.
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INTROITO
O presente trabalho trata de alguns aspectos da fortificação de Vila Nova de Portimão, hoje praticamente inexistente ou oculta no casario, consequência, sobretudo, dos terramotos do século XVIII, da expansão da povoação, do aproveitamento de alguns dos materiais de alvenarias da cerca e consequente derrube a fim de facilitar a circulação de pessoas e mercadorias, bem como a organização de novos arruamentos, mudanças que vieram alterar em muito o conjunto quatrocentista da povoação e afectando ainda mais aquela estrutura militar.
Autores da Planta: Francisco Carrapiço, José Brázio e Jaime Palminha (Adaptada)
Simples lugar de pescadores, nos meados do século XV, menos de cem anos depois Portimão assumia-se já como a 4ª maior povoação do litoral algarvio com 634 vizinhos
A 10 de Abril de 1476, D. Afonso V concedeu Vila Nova de Portimão a um seu vedor da Fazenda, D. Gonçalo Vaz de Castelo Branco, obrigando-o a fortificar a localidade com um castelo e muralhas.
Ao que tudo indica, a área amuralhada era superior a 6 hectares e definia um polígono irregular (*) que acompanhava a margem do rio e englobava a parte mais alta da vila, onde se situava a Igreja Matriz, também ela mandada edificar por Gonçalo Castelo Branco. A quase totalidade das muralhas foi destruída ao longo dos tempos, restando pequenos troços, entre prédios e muros de propriedades.
Nos dias de hoje o principal troço remanescente localiza-se entre a Porta da Serra e o Postigo dos Fumeiros, conservando ainda parte do caminho de ronda da fortaleza.
Um segundo troço, entre o Postigo da Igreja e a Porta de São João, mantém-se ainda parcialmente, bastante danificado e suprimido por construções posteriores
(*) A cerca de Portimão, de forma triangular, tinha cerca de 1100m de perímetro, 4 portas torreadas e 3 postigos, uma frente para o Rio Arade ou de Silves e duas outras para Norte e Poente.
No vértice N - Porta da Serra, no vértice S - a Porta de São João e no vértice Nascente - o Postigo dos Fumeiros.
4 Portas e 3 postigos
Porta de S. João, Porta da Serra, Porta da Ribeira, Porta do Corpo da Guarda.
Postigo da Igreja ou de São Sebastião, Postigo dos Fumeiros e Postigo de Santa Isabel.
Porta da Ribeira
Rasga a muralha ao cimo da actual Rua Serpa Pinto e sobe em direcção à actual Rua Professor José Buísel,
A cerca assentava, mais ou menos a meio, entre esta rua e a Rua do Forno (Forno dos Fumeiros)
Postigo dos Fumeiros
Entrada do lado Nascente da muralha sensivelmente onde hoje confluem as Ruas Professor Buísel e Rua do Forno (Forno dos Fumeiros, antiga designação) em frente à Praceta F. Maurício, junto à Ponte Velha.
A cerca assentava entre estas duas ruas até à Porta da Serra e seguia, na parte terminal, pela Rua da Fábrica. indo confluir com as ruas Porta da Serra e Machado Santos.
Postigo dos Fumeiros
Também funcionavam na cidade algumas pequenas fábricas/armazéns os chamados fumeiros de preparação de frutos secos (figo, amêndoa, alfarroba) acondicionados em seiras (cestas de palma, vulgo "empreita" (indústria doméstica de manufactura de trabalhos de entrançado em palma ou esparto), feitas por velhinhas à porta das suas casas para melhoria dos seus magros rendimentos, e que ocupavam também homens, mulheres e crianças.
Os fumeiros eram, portanto, armazéns onde se procedia ao tratamento do figo, amêndoa e alfarroba para conservação e posterior exportação.
Ora, era nesta zona que se localizavam inúmeros armazéns deste tipo, daí o patronímico "postigo dos fumeiros" pequena abertura rasgado neste troço da cerca para permitir a passagem a pé de pessoas e mercadorias.
Porta da Serra
No entroncamento da actual Rua da Fábrica com a Rua Machado Santos e Rua da Porta da Serra ficaria a PORTA da SERRA e como todas as outras portas defendida com dois torreões dando acesso ao caminho para a Serra de Monchique
... e mais ou menos nas traseiras desta rua, Rua Machado Santos, corria a cerca em direcção à Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição passando em frente ao adro onde se erguia o primitivo pelourinho de Portimão e, para facilitar o acesso à Igreja, foi aberto um postigo que permitia a passagem das pessoas
Postigo da Igreja ou de São Sebastião
A muralha passaria entre as casas da actual Rua Diogo Tomé e Dr. Ernesto Cabrita
Porta de São João
Porta de São João - rasgaria a Cerca no cruzamento da Rua Diogo Couto / Rua Direita, Rua da Porta de São João (Há quem opine que esta porta estaria no cruzamento da actual Rua Dr. Ernesto Cabrita com a Rua Direita na esquina do antigo edifício da Farmácia Dias com a Praça 1º de Dezembro)
A foto abaixo pretende dar uma ideia mais provável da localização desta porta
Porta da Guarda
e virava para a Porta da Guarda sita na actual Rua 5 de Outubro entre o edifício da Caixa Geral de Depósitos e o Correio
Postigo de Santa Isabel
Postigo de Santa Isabel no entroncamento da Rua Serpa Pinto com a rua do mesmo nome.
Rua de Santa Isabel (vista de Poente para Nascente) - Em destaque casa brasonada com Porta Manuelina - Nº 106
Os muros tinham troços entre 40 a 50 metros de comprido em forma de dentes de serra; era sobretudo uma muralha defensiva com uma área de cerca de 6,5 Ha, constituída por pedras de características pobres, coladas com argamassa com lances de diferentes tipos de construção e uma espessura à volta de 1,60 m e uma altura entre 5 e 6 metros com caminho de ronda com cerca de 1 metro de largura e portas protegidas por 2 torres
Muralha de Portimão na actual Rua Ernestro Cabrita (interior do edifício)
Muralha medieval com parte do caminho de ronda. Obras de construção na Rua Dr. Ernesto Cabrita
Pano de muralha recentemente posto a descoberto (séc.XXI) (Rua Dr. Ernesto Cabrita
Um pano da muralha tardo-medieval de Vila Nova de Portimão, bem como parte do caminho de ronda da antiga zona fortificada, foram postos a descoberto (segunda década do séc. XXI) durante as obras de construção de um Hostel Cultural, na Rua Dr. Ernesto Cabrita, promovidas pela Academia de Música de Lagos/Conservatório de Música de Portimão
Portimão, pano de muralha, Interior do edifício da Instituto Manuel Teixeira Gomes, ao lado ainda se pode visitar a cisterna
(Entrada pela Rua Dr. Estêvão de Vasconcelos)
Quando falamos em muralhas de Portimão empregamos 3 tempos verbais:
... a muralha passa (raramente)
... a muralha passava (mais frequentemente)
... a muralha passaria (frequentemente)
O Presente (raramente)
O Imperfeito (algumas vezes)
O Condicional (menos frequentemente)
Isto mostra como é difícil precisar o traçado das muralhas pela destruição da cerca da vila sofrida ao longo dos tempos sobretudo depois dos terramotos do século XVIII:
- de 6 Março de 1719,
- de 27 de Dezembro de 1722
- e 1 de Novembro de 1755
e ao mesmo tempo que a povoação se ia expandindo para fora da cerca.
Os materiais de construção da cerca remetiam-se ao tipo de rochas do local e que não eram lá muito nobres.
Calcário pobre com pedras sustentadas por barro e argamassa o que justifica em muitos casos a relativa facilidade do derrube do muro que para pouco já servia de protecção e se tornava um obstáculo à expansão da povoação, ordenamento das ruas e circulação de pessoas, animais e mercadorias..
Era numa ceira como esta, de fabrico artesanal, que há mais de 500 anos se acondicionavam os frutos secos, nomeadamente figos,
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